M de Lourdes Luz, Dra
Nara
Iwata, MSc
Resumo
A pesquisa busca sistematizar a aquisição de competências
essenciais para o processo de criação e estudar a relação entre pessoas e
objetos projetados, balizando modelos tradicionais de procedimentos com
metodologia focada nas emoções, reações e significados despertados pelo
convívio de uma pessoa com a coisa projetada.
Palavras-chave: processo criativo, design, jóias
Conceitos e Métodos
O Design,
em sua essência, é o resultado do processo consciente de escolhas que expressa
o modo de ver e interpretar a(s) realidade(s). Essa pesquisa tem como objetivo
sistematizar a aquisição de competências para o processo de criação e estudos
entre pessoas e objetos projetados.
Inicialmente, torna-se essencial estabelecermos
critérios norteadores para compreendermos as possibilidades de combinação,
conjugação, reunião ou dispersão na descoberta da auto expressão no processo
criativo. A capacidade de projetar deriva de uma fusão de técnicas, saberes,
compreensão e imaginação, consolidados pela experiência.
A maioria dos investigadores em
criatividade concorda no que diz respeito às três faculdades principais que
caracterizam uma pessoa criativa: a fluidez – facilidade de produzir idéias em
tempo limitado, a flexibilidade – facilidade de produzir idéias não só em
quantidade, mas também em qualidade e encontrar respostas que permitam
diferentes classificações e a originalidade do pensamento – quando uma proposta
produzida se diferencia das outras em determinado contexto por ser única ou
pouco comum.[i]
Há quem interprete a criatividade como uma atividade
relativamente não estruturada de circular em torno de idéias até se deparar com
a idéia certa. Embora essa postura possa funcionar em algumas situações, é
sabido que em outras uma abordagem mais estruturada é requerida. Se a liberdade
para experimentar é essencial para a criatividade, também é necessária alguma
disciplina para assegurar objetividade e consistência. Criatividade não pode
significar improvisação sem método.
O
trabalho de designer pode ser apresentado, conforme os conceitos apresentados
por Elvan Silva[ii], como
uma “caixa de vidro”, um processo projetual respaldado num método explícito,
codificável e transmissível. Entendendo-se método como o caminho para atingir
uma finalidade e o processo o caminho composto de fases por onde percorre o
método, o processo seria o método em movimento que depende do tempo. [iii]
Portanto,
o processo criativo corresponderia à aplicação do método de forma livre mas
estruturada, gerando um design coerente. Como estudo de caso do presente artigo
selecionamos a designer de jóias Silvia Beildeck não somente pela qualidade do
trabalho, mas sobretudo pela coerência formal e experiência consciente que
transformam o produto-objeto em
pertence. Ao contrário da moda, efêmera na sua essência, a
jóia incorpora a permanência. A joalheria atual incorpora ao valor dos metais e
pedras o valor do design.
A designer e sua formação
Silvia
Beildeck tem a consciência de que toda sua experiência de vida, mas,
principalmente, sua experiência profissional, influenciam seu processo criativo
atual. Por conta de sua formação como arquiteta e urbanista em 1981, vê hoje em
seu trabalho como designer de jóias uma presença construtiva, estrutural,
ligada ao “less is more” de sua
formação modernista.
Graduada
em Arquitetura e Urbanismo, morou por dois anos em Nova Iorque , onde
estudou pintura com uma pintora japonesa. Por mais de um ano pintou imagens de
bambus, “até virar um bambu”, o que a influenciou na questão do tempo, o tempo
do pensamento, o tempo da criação.
De volta
ao Brasil cursou por apenas um ano a graduação de Moda, onde se interessou pelo
trabalho com cores e estampas em tecidos. Fez cursos de desenho, mas sentiu que a
linguagem do desenho limitou sua expressão. Buscou, então, a fotografia.
Trabalhou
como fotógrafa por cinco anos, mas sempre viu a fotografia como linguagem, não
como produto final. Ainda durante a graduação em Design de Jóias (2006-2007),
se apropriou da linguagem da fotografia, o que influenciou sua produção até
hoje.
Primeiros Projetos
Em um de
seus primeiros projetos Silvia Beildeck participou de um concurso para
desenvolver um souvenir carioca de
design. Por conta de sua experiência, trabalhou com fotografias fragmentadas e
enquadradas. O resultado é um bracelete estruturado, quase um porta-retratos.
(fig.1)
Figura 1: Bracelete com imagem fragmentada enquadrada em molduras de
prata
Esse
projeto inicial dá origem a peças posteriores, num processo que nítida e
conscientemente caminha para a abstração, através da desconstrução da imagem.
Gradualmente, a imagem se transforma em protagonista da peça. (fig.2)
Figura 2: Colares com fragmentos de imagens do Rio de Janeiro impressas
em acrílico
Paralelamente
a uma preocupação estética da artista, há uma preocupação com a busca por novos
materiais que possibilitem a sua expressão, o que resulta na técnica de
impressão em acrílico.
Esse material se mostra um bom suporte para as fotografias,
levando em conta a necessidade de contemporaneidade e também por ser uma
superfície que não disputa atenção com as imagens. A preocupação com a técnica
faz com que o processo criativo envolva não apenas o fazer, mas a boa
realização do fazer. (fig.3)
Últimos Projetos
No mais recente projeto desenvolvido
pela designer, o ponto de partida é a decisão de utilizar imagens de um arquivo
pessoal. Ao trabalhar com a história e a memória, coleta fotos antigas de
família, em que a linguagem impressa é mais importante do que as pessoas ali
retratadas.
As cores
das fotos antigas direcionam o processo criativo para folhas secas, que são
também colecionadas, inteiras ou em fragmentos. Essas
folhas passam por um processo de plastificação, que congela seu momento, como a
fotografia faz com as pessoas. (fig.4)
Figura 4: Colar em que folha e fotografia se fundem, com a imagem como
protagonista
Assim, fotografias e
folhas entram em um mesmo contexto. A
preocupação atual do ser “ecologicamente correto”, a necessidade de preservar,
se transforma num paralelo com as fotografias, com a nossa necessidade de
preservar em álbuns de fotografias os seres que nos são caros, mas
principalmente a necessidade de “plastificar” os momentos em que esses seres
estão em tais lugares, criando momentos memoráveis.
Considerações
Na
presente pesquisa, a prioridade é nos ocupar dos aspectos de ação intelectual
da metodologia de projeto. Entendemos que a descrição dos métodos de ação
intelectual se torna necessária, pois as novas tendências do design indicam
cada vez mais a importância de métodos semióticos (de signos) e hermenêuticos
(de interpretação).
Quando
nos voltamos para a análise do trabalho da designer de jóias Silvia Beildeck, é
clara a importância desses métodos. O percurso demonstrado apresenta o
desenvolvimento de uma idéia, nem sempre linear, mas que compõe uma linguagem
pessoal. E essa linguagem pessoal está intimamente ligada à emoção.
Como
afirma Norman[iv], a
emoção é a experiência consciente do afeto, completa com a atribuição da sua
causa e identificação de seu objeto. No caso da designer Silvia Beildeck a
relação da sua produção com as experiências que compõem seu repertório afetivo
é clara e consciente. Da mesma forma, essa relação poderia ser demonstrada no
processo criativo de outros designers.
Como forma
de conclusão, apresentamos o designer Antonio Bernardo (fig.5) filho de
relojoeiro que incorpora em sua criação a precisão e engenhosidade das
engrenagens e a designer Mary Design (fig.6), filha de alfaiate que desenvolve
jóias com tecidos, com uma estética desestruturada e colorida, que remete
visualmente aos retalhos acumulados no chão
Figura 5: a precisão minuciosa das criações de Antonio Bernardo
Figura 6: o colorido desestruturado das criações de Mary Design
[i] Guilford, 1986.
[ii] Silva, 1986.
[iii] Coelho, 2008.
[iv] Norman, 2008: 31.
Referências Bibliográficas
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e Destino. São Paulo: Ática,
2004.
COELHO,
Luiz Antonio. Novas Idéias Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2008.
COELHO,
Luiz Antonio L.(org). Conceitos-chave em design. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2008.
GUILFORD, Joy Paul. Creative talents; their nature,
uses and development. Nova Iorque: Bearly, 1986.
MUNARI,
Bruno. ¿Como nacen los objetos? Barcelona: Gustao Gili, 1981.
NORMAN,
Donald. Design emocional. Rio de Janeiro: Rocco, 2008.
SILVA,
Elvan. “Sobre a renovação do conceito de projeto arquitetônico e sua didática”.
In: Projeto Arquitetônico: disciplina em crise, disciplina em renovação. São Paulo :
Projeto, 1986.
SIQUEIRA,
Jairo. Criatividade e Inovação. Disponível na Internet via
http://criatividadeaplicada.com. Arquivo consultado em abr. 2010.
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