Quem chega no Largo João da Baiana no bairro da Saúde, Rio de Janeiro, e vê a estreita colina de rocha com uma escadaria talhada, não imagina como um local tão pequeno abriga uma grande e importante memória da cultura carioca. Pois foi neste espaço, próximo ao centro do Rio, onde nasceu o samba, gênero musical mais representativo do Brasil no mundo.
A história daquele lugar nasce no início do século XVII, quando um grupo de baianos se instalou na região, onde a moradia era mais barata e mais próxima ao Cais do Porto, ou seja, oferecia melhores condições aos trabalhadores da estiva. Era um local de ruas tortuosas e becos em torno da Pedra da Prainha, depois conhecida como Pedra do Sal, onde ficava o mercado de escravos.
PEDRA DO SAL
Com a chegada da Família Real no início
do século XIX, toda a vida urbana se expandiu, assim como a atividade
portuária, e surgiram vários trapiches na orla marítima. No mesmo período, se
agravaram as condições de vida na capital da Bahia, o que propiciou uma
migração sistemática de sudaneses, para o Rio de Janeiro, fundando-se
praticamente uma pequena difusão baiana na capital.
A mais famosa de todas as baianas que habitava no entorno da Pedra foi Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, citada em todos os relatos do surgimento do samba carioca e dos ranchos, e viva na memória da comunidade preta da cidade. Mãe de santo, ela praticamente abrigava o samba e seus compositores e intérpretes em sua casa, naquele local que passou a ser conhecido como Pequena África. Tia Ciata tornou-se a iniciadora da tradição carioca das baianas quituteiras, e inclusive foi documentada no livro de Debret "Viagem Pitoresca e Histórica do Brasil".
Desde
o final do século XIX, essa área ao redor da Pedra do Sal se tornou um um
centro de expressão cultural carioca. Também desempenhou um papel fundamental
no samba, que começou com os saraus da Tia Ciata, com a presença de grandes
nomes como Pixinguinha, Donga e Heitor dos Prazeres, e chegou aos atuais
encontros semanais dos amantes do samba.
Autores: Lourdes Luz e Virginia Palmerston
(co-autora)
O texto foi publicado originalmente na Revista Digital: Conexão Décor
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