Autor: Lourdes Luz, Dra.
Hollywood – Cinema
Buscamos em Hollywood a
referência de um mundo encantado e moderno da arquitetura Deco. Enquanto a França
clamava sua superioridade quanto à estética e Alemanha desenvolvia seu
potencial em um centro específico de atividades artísticas, os EUA e em
especial Nova Iorque, a partir de 1930, mostrava para o mundo seu poder no
campo da indústria cultural. Depois da Primeira Guerra Mundial até 1924 havia
um grande número de propostas desordenadas ligadas à arquitetura e os filmes
passaram a focar uma relação estreita com o décor cenográfico da arquitetura
moderna. O que para Hollywood, traduzia-se no Art Deco, depois que esse modelo
foi apresentado aos americanos, a partir da Expo de 1925.
Toda a linguagem foi passada, de forma bem acabada, nos figurinos e nos cenários dos novos heróis (na indústria do cinema como um todo). O que testemunharam Marie Prevost em Main Bait (1927), Mae Marray em Peacock Alley (1922), Lya de Putti (nos anos 30’s) dentre outros.
Marie Prevost
Mae Marray
Lya de Putti
A questão da indústria
cultura tem em Hollywood seu fórum de grande importância, onde o consumo da
cultura de massa se inscreve, em boa parte, no lazer moderno, entendendo-se
lazer como um tempo ganho sobre o trabalho. Era neste tempo conquistado pelo
homem e para ele, que estava a assistência ao espetáculo cinematográfico,
impregnado do componente lúdico.
Hollywood,
indústria-cultural-cinematográfica, possuía as funções essenciais em uma linha
de produção: estúdio de som, infraestrutura de bastidores, produção propriamente
dita (dominavam da seleção do escritor ao cenário e figurino) da exibição
(cadeia de cinemas) e a distribuição. O que mais se destaca nesta linha de
montagem era o figurino, como ponto básico no atrativo.
O figurino deveria ter
a marca de novidade, o que gerava um trabalho difícil, visto que do início das
filmagens à edição final, isto é, o produto-filme estar pronto para ser
exibido, levava cerca de um ano somado ao tempo em que ficaria em circulação, o
que girava em torno de ano e meio. Sua posição de lançador de moda era
inegável, levando os grandes costureiros da época, a lançarem suas coleções em
Paris e Hollywood. Esta situação de ponta estendeu-se também à produção de um
espaço arquitetônico-cenográfico moderno.
Os maiores estúdios:
MGM, 20th Century – Fox, Paramount, Warner Bros, RKO, Columbia, Universal,
United Artists, tinham um departamento de arte cada um, com modelos
estabelecidos, uma vez que nos espaços verdadeiros e na verdade cenográfica
alguns programas de arquitetura ou mesmo determinados ambientes ganharam
tratamento diferenciado e passaram a ser introjetados na vida cotidiana[1].
Nos sets onde a
ambientação se dava na cozinha, essa recebia considerável atenção, era símbolo
importante da vida moderna, na qual a dona de casa se mostrava como um mestre
na tecnologia, evidenciando as facilidades da vida moderna: tudo ao alcance das
mãos e ao mínimo esforço. Havia uma deliberação subliminar no sentido de
glorificar a mulher-esposa, assim como tentavam condenar, de certa forma, a
“nova mulher”, que poderia estar representada por intermédio da mulher liberada
sexualmente ou a profissional que “abandonava” o lar e saía para o trabalho.
Enquanto a cozinha era
o laboratório, o representante do up to
date em tecnologia, o quarto revestia-se do tabu, do pudor e do
preconceito, sendo que a censura era bilateral: interna (do produtor e diretor)
e externa (público). O dormitório com a cama de casal não se apresentava com
constância, assim como o mobiliário e as vestimentas que induziam a imaginação:
as chaise-longues, belas mulheres aí recostadas fumando elegantes piteiras e os
pijamas exóticos.
Os banheiros, por sua
vez, são como as cozinhas: funcionais e assépticos. Esta peça da casa tornou-se
essencial nos anos 1920, entretanto as primeiras transformações datam do final
do século XIX. Foi explorado nos filmes de diversas maneiras, posto que era
objeto de culto por parte dos arquitetos e ora aparecia como suntuosa terma
romana, ora como ginásio dedicado à rigorosa higiene, onde as funções banho e toillete estavam sempre separadas. Os
banheiros serviram de cenários para sugerir sensualidade, a luxúria, para
satirizar o culto ao físico ou ainda provocar escândalos.
James Cagney em ser do filme SNATCHER (1933)
Com o crescimento da
classe empresarial, conseqüente, crescimento do poder econômico, os escritórios
comerciais passam a ser símbolo de força e o vocabulário Deco favorecia a ideia
que se pretendia passar: deveria ser simultaneamente confortável e identificado
como um espaço detentor de novas tecnologia, racional e eficiente.
O nightclub era a representação ou melhor a personificação da
fantasia, a estética almejada era a estética do glamour, onde se tirava partido
de todos os elementos disponíveis, principalmente da luz tanto direta como
indireta, quando o objetivo era perspectiva e fascinar o expectador. Nestes
espetaculares cenários trabalhava-se com uma perspectiva em planos que contava
com a presença de grandes arranha-céus fazendo referência aquilo que era visto
ou poderia ser “visto-imaginário” através de janelas. O moderno skyline poderia ser contemplado também
dos terraços destas mesmas casas de diversão. O nightclub é persuasivo no seu discurso formal.
Vários são os filmes da
década de trinta que projetavam cidades para o futuro, exacerbando esse modelo:
rastreava-se o desconhecido a fim de encontrar a síntese de todas as ansiedades
desses homens que se dizem modernos, ou ao menos desejavam ser percebidos desta
maneira – era o mito da modernidade. O Art Deco encontrou seu lugar, uma vez
que possuia a capacidade de responder, naquele momento, a uma série de
expectativa da sociedade. É justamente na ambiguidade que ele sobrevive: nada
mais passageiro do que a moda Deco e nada tão convincente e sedutor que o Art
Deco.
Essa indústria
transitou, paradoxalmente, entre a burocracia e a invenção, a estandardização e
a individualidade, o que significou que ao mesmo tempo em que uma organização
burocrática manipulou valores e modelos instalando tipologias, o produto deveria
possuir criatividade. O diretor para obter bom resultado teria que saber lidar
com essa equação.
Naquela década, o homem
conseguiu definir e entender, mesmo que erroneamente, a princípio, como se
fazia para ser moderno: foram estabelecidos parâmetros, não examinando seus graus
de efemeridade, importava que as questões estavam abertas.
[1] Cf.ALBRETCH, Donald.
Desining Dreams – Modern Architecture in the Movies. New York: Harper in
collaboration with the Museum of Modern Art, 1986
Lourdes que maravilha fazer um blog [já era tempo], embora você já tenha transitado [há muito tempo atrás] na esfera das comunicações digitais. Parabéns! Põe o seu saber para fora e divida conosco. Bj,
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