quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Caravela , de Susana Palmerston


Esta semana dediquei a poesia.
Selecionei duas poetisas maravilhosamente vicerais !


Caravela

Há barcos que nos crescem na alma com o único propósito de nos navegar, fazem-nos de mar, de porto, de chegada, de lenço branco na mão  mas um dia, sem aviso, sem fogos, nem apito, fazem-nos de partida .Tanto quanto eu sei foi assim que nasceu a saudade: embrulhada num lenço branco, num dia de partida, sentada  naqueles olhos vazios, a  acenar a um barquinho que nunca viu..... mas que lhe disseram rumava ao céu.
Aos pequeninos diz-se que foi uma estrelinha que nasceu, e eles, sorriem o sorriso de tantos barcos para os navegar, aos grandes não se diz muito, porque eles ouvem pouco, já não sentem a alma lavada porque com os barcos foi a água, e do céu já só se lembram que lhes pode cair na cabeça .
Há barcos, que nos crescem na alma, para tapar os buracos da nossa geografia, para sermos terra à vista e não, terra à deriva, só nunca percebi porque se vão desta água quente, que é a nossa vontade de ser feliz, deste porto seguro que se pudesse, se transformava em amarra.... para jamais ver chegar a partida.
Sr.poeta, será que quando disse: “ alma minha gentil, que te partiste tão cedo ”,não queria dizer “alma minha gentil, que naufragas-te tão fundo...”
E a saudade, quem mandou vir essa senhora? Eu não fui, então porque que é que tenho a alma em dia de partida? Porque abandonam os barcos o meu cais? Quem inverteu as rotas e trocou os dias?
Escorrem-me  barcos e águas pelo caminho, não fosse a Caravela que me leva ao oceano, a ancora que me prende à luz, o meu mastro de felicidade, afundaria na próxima esquina .Essa Caravela, chama-se AMOR, e leva-me na única e necessária viagem da minha vida.

                                                                                                          Susana Palmerston
poetisa e atriz portuguesa

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